Oráculo das Águas
Oráculo das Águas foi feito como uma forma de investigação da situação dos moradores que enfrentam a rotina de enchentes que ocorrem na periferia da cidade de São Paulo, no caso, moradores de bairros da zona leste da cidade que ficaram mais de 50 dias com ruas e casas inundadas no período de dezembro de 2009.
O filme destina-se a levantar uma denúncia sobre a nossa tão cantada “Democracia”, que no caso brasileiro não passa de uma falácia, pois se trata de uma pseudo-democracia fragmentada que não agrega a maior parte de seus cidadãos, deixando essa parcela mais carente sem participação e sem voz. De forma que a tese que o filme levanta é a de que no caso brasileiro não se trata de um Estado Democrático, mas sim, segundo Aristóteles, de um Estado Aristocrático, pois o age de forma seletiva na garantia dos direitos de seus cidadãos.
Tema: DERECHOS HUMANOS
FICHA TÉCNICA
País: Brasil
Duração: 5'
Diretor: Luís Roberto Carvalho
Produtor: Luís Roberto Carvalho
Ano: 2011
Formato: HD
Montagem: Luís Roberto Carvalho
Som Direto: Luís Roberto Carvalho
Fotografia: Luís Roberto Carvalho
Festivais:
Festival Tela Digital 2011
Filmografia do
Diretor:
Causo; Moda: Catira - Documentário Média-metragem - 2011
Oráculo das Águas - Documentário Curta-metragem experimental - 2011
Autofagia - Documentário Curta-metragem experimental - 2007
Hybris - Curta-metragem experimental - 2004
Comentário do
Diretor: São Paulo sofreu com fortes chuvas no período de dezembro de 2009, permanecendo por mais de 30 dias consecutivos sob tempestades diárias. E quem mais sofreu com os efeitos das águas foram os pobres moradores das periferias da cidade. Apesar de cessarem os dias de chuva, certos bairros chegaram a ficar por mais de 50 dias submersos, com sua população exposta às mais diversas patologias trazidas por esse tipo de calamidade. Foram várias as mortes causadas pelos mais diversos motivos: de soterrados por deslizamentos de terra em áreas de risco, à vítimas de leptospirose. Em meio à dor das perdas, famílias precisaram enfrentar praticamente sozinhas à fúria das águas, já que mais uma vez o Estado se mostrou omisso perante os problemas e demandas dessa parte da população.
Seria muito fácil culpar a natureza por esse tipo de calamidade, porém quando essas terríveis histórias se repetem anualmente na cidade de São Paulo, fica impossível ver o próprio homem como maior responsável. O inchaço das grandes metrópoles, a urbanização descontrolada, a impermeabilização do solo, a falta de saneamento e de fiscalização por meio das autoridades competentes são alguns dos motivos que podem ser pensados quando presenciamos esse tipo de tragédia. Mas aí vem a pergunta: não seria uma tragédia anunciada?
Oráculo das Águas é uma representação da calamidade generalizada que tomou conta da cidade nesses dias. Trata-se de uma investigação poética desses dias de dor vividos por uma parcela da população que possui uma voz, porém nunca é ouvida pelos homens públicos de nosso país. De modo que podemos dizer que não possuem rostos, pois esses são praticamente ignorados pelo Estado, e só são lembrados nos momentos que antecedem períodos eleitorais; daí expor as vozes e não as faces dessa parcela esquecida de nossa população.
O filme se integra dentro da prática do cinema de guerrilha, ou seja, um assalto à realidade in loco. Produção de uma equipe de um homem só, onde o primordial é a apreensão de certo fenômeno real que se apresenta de modo fugaz, e que por isso necessita desse tipo de estratégia.
Esse documentário experimental pode ser entendido como uma representação do tipo de democracia representativa fragmentada que se desenvolveu no Brasil. E fragmentada acaba sendo a narrativa desse curta-metragem. Uma narrativa que caminha a passos lentos, que se desenrola de forma circular; construída por meio de contrastes, da mesma forma com que é construída nossa tão cantada democracia.
Em seu livro “O Estado é Meio e não Fim”, Ataliba Nogueira diz: “Sem o reconhecimento e o respeito dos direitos, sem dar ele a cada um o que é seu, sem fazer justiça a todos; falha completamente o Estado à sua finalidade e nem é possível realizar a sua tarefa positiva de prosperidade pública”.
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